quinta-feira, 21 de agosto de 2008
La feuille de route-cadre...
Ele fotografa todas as lendas que ameaçam a verdade e com as mãos sujas de tinta,colore o tempo para poder fotografar depois.
Ela julga ser senhora de si mesma, e em tempos distantes a sua altivez imperial zombaria dos pés calejados por tormentos anteriores,mas hoje...hoje ela não ignora as regras de uma bela farsa.
Ele,com suas suposições teóricas e averiguações concretas,tem um talento mestre em manejar o silêncio alheio e as borboletas comentam que ele tem gosto de néctar.
Deitados no ar,tiveram a sensação de estar descobrindo algo que o instinto humano sempre soube que existia.Apagaram a luz com o lençol e a trama(La feuille de route-cadre) embalou os cinco sentidos da rede.Foi a única vez que ele não lamentou pelo silêncio dela.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Resposta aos anjos.

De demônios eu não entendo.Por favor,apareçam...Saiam dos punhos da minha rede e voltem a me rasgar a cara como antigamente,subornem as minhas preces mal feitas e dessa vez não corram dos meus gritos ao abrir a porta,gritemos juntos(faríamos um belo coro e louvaríamos a virtude sedativa das músicas pagãs).
De demônios eu queria entender...Por favor,fujam em mim,justifiquem as minhas febres e olheiras "rasgue a camisa/enxugue meu pranto/como prova de amor/mostre teu novo canto".
Proponho uma noite barulhenta com fogos não artificiais para afastar os agouros.Que tal uma ciranda?Um brinde aos nossos espetáculos particulares ,um brinde aos gozos perduráveis!Façamos inveja aos anjos,temos sexo,asas,taras e fôlego.
Eu acabo de desistir das preces já que as minha insônias estão sendo veladas.
Brindemos!
Vanessa Feitosa
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Imóvel.
Terceiro andar.
Uma sala no lugar de sempre, com uma mesa de jantar que além de não comestível é incapaz de digerir os pormenores cotidianos.
Uma cozinha com mármores mudos, panelas histéricas e acreditem: copos vazios.
Corre [a] dor.
Corre.
O quarto (o todo da parte) com paredes sem ouvidos ou lembranças... é lá onde as coisas se perdem. A janela não escapa à forma de vitrine e quando o silêncio grita por voltas das 3h da madrugada o alarme de vidro quebrado não toca.A cama (que parte o todo com fronhas secas de pranto) tem a cabeceira enfeitada por sonhos pueris e um colchão que não se deixa enfeitar nem pelas criaturas de fábula ditadas pela voz materna de outros tempos.
O banheiro, o espelho e a toalha sempre à espera.
Corre.
Corredor.
A porta, com ponteiros de relógio..tão invisível quanto a serventia da casa.
Seja bem-vindo,pode entrar.
Vanessa Feitosa.
sábado, 9 de agosto de 2008
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Pequenos Fragmentos de Metrópole
Foto :Vanessa Feitosa

Hoje eu me sentei naquela pedra
ouvindo os gritos das favelas nas antenas de tv
retorcer de ferro, cal, cimento
mil tijolos ao relento
construções rasgando o céu
o fino rufar do tambor de um revólver
dissolve o silêncio na mesa do bar
paisagem reflete e devolve ao esgoto escorrido
um vestígio que abafa o cantar
morro descansando a vista dela
rosto esfinge da janela contemplando a precisão
perceber o inferno,caos cinzento,rio de gente,
nobre elenco encenando seu papel
seu pranto enxugado no canto da fronha
seus calos deixados aos pés da montanha
assanha seu leve cabelo
vento lamento embutido no peito a sangrar
tarde demais. tarde de maio.eu quase desmaio
quando vi o poeta caído de porre no fim da calçada
a navalha sangrando o pescoço
e o esforço continuo a se levantar
seus pés mais apressados que os sapatos
suas rédeas seus novos cadarços
sufocando a lentidão do tempo
meu chão eterno céu longo tapete
estrada pra o mar véu, colete
sustentando barco, vela e vento.
Fernando Araújo
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Mim.

Eu tenho mãos pequenas, unhas roídas e uma boca que fala por si só.Olhos que correm,cabelos instáveis, bochechas rabiscadas por sinais e uns traços julgados juvenis.Braços curtos,pernas mais ainda e dedos quase invisíveis.No mais, eu sou alma, e se ela tiver cara é daquelas desdentadas com a língua à mostra e à prova..o resto é expectativa do espelho.